Chove?
Chovem angústias
e solidão
em ângulos apertados.
Chove?
Chove um céu azul mutilado
por disformes elementos
que escondem um intervalo entre limites,
que queria ser luz..
Chove?
Chove e parece tudo morto,
e as formas desenhadas
em cima de mim, não
são mais que um tempo que foi
mas já não é.
Chove?
Chove no uniforme
espaço entre duas linhas,
que se encontram e cortam
o espectro celífero,
num amargo abandono
recortado,
numa aflição de contornos
exactos.
Chove?
Chove de um horizonte de cruz,
como um poema que dorme,
numa chuva de formas.
Chove.
Chove uma figura celeste que me molha,
e me deixa seca de azul.
Mika: Rain
Fotografia: Jorge