As manhãs chegavam
com chuva, sem mar.
Extensas paredes vazias onde a tua sombra nunca pousou
reflectiam, sem pena,
os dias lentíssimos
aqui, no silêncio onde moro.
Arrasto comigo o canto quase límpido
do oceano, que morria, extasiado
como um louco,
nas pedras quentes do fim da tarde.
Abandono-me na memória do teu olhar,
no contorno quase ténue do teu sorriso
e na crueldade das memórias sem retorno,
sinto uma liberdade
que reaviva um gesto inacabado
que se solta, num grito de abandono.
Atravesso o dia, repleta de mim,
e as fissuras do tempo
desbotam cada noite a lembrança do teu rosto.
A lua já não vem,
adormeço já sem lágrimas
e num murmúrio
soa lá ao longe a canção.
Adrienne Pierce - Laundry and Dishes
Foto: Johannes
. Olhar