Terça-feira, 24 de Março de 2009

Olhar

 

As manhãs chegavam

com chuva, sem mar.

Extensas paredes vazias onde a tua sombra nunca pousou

reflectiam, sem pena,

os dias lentíssimos

aqui, no silêncio onde moro.

Arrasto comigo o canto quase límpido

do oceano, que morria, extasiado

como um louco,

nas pedras quentes do fim da tarde.

Abandono-me na memória do teu olhar,

no contorno quase ténue do teu sorriso

e na crueldade das memórias sem retorno,

sinto uma liberdade

que reaviva um gesto inacabado

que se solta,  num grito de abandono.

Atravesso o dia, repleta de mim,

e as fissuras do tempo

desbotam cada noite a lembrança do teu rosto.

A lua já não vem,

adormeço já sem lágrimas

e num murmúrio

soa lá ao longe a canção.

 

Adrienne Pierce - Laundry and Dishes 

Foto: Johannes

 

publicado por Sara Rocha às 18:56
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