Foto: Fernando Quintino Estevão
Era um caderno velho e cor de bronze, revestido a veludo gasto e cozido a linha branca como outrora eram as suas folhas; parecia uma tela pintada por um louco, de tantas que eram as manchas que continha na capa velha e suja. Possuía intactas duas folhas vazias, que já não eram alvas mas tinham aquele cheiro a vida vivida, aquele aroma que chegava sempre antes Dela... e que todos conheciam. Uma espécie de retrato inacabado, com pinceladas ora suaves e redondas, ora resultantes de movimentos espasmódicos e disformes, mas que conferiam uma harmonia de estranha viveza, cujo final, de tanto zelo do pintor, surgia impossível. O velho caderno persistia, teimoso e firme com páginas ainda vazias na esperança de um último poema, do derradeiro, do melhor, de um final que exigia feliz… ela já não escrevia, abandonara-se há muito. O caderno ainda era, ela já não.
Holly Golightly - Slowly But Surely
Obs.: Fotografia sugerida por Nuno Gomes
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