Nada mais, nada mais
que um último olhar.
A censura
do indomável azul,
escorre do céu
e desenha obstinada,
o perfil esguio de um tempo
debruado de negro. Sacode
da luz zenital,
um murmúrio de mim, que
num contorno quase terno,
esconde,
inseguro,
uma imensidão de vida.
Um último olhar,
devassa a escassez
do tempo, que
de asas fechadas
já não provoca
a mestria de um
despojado lamento.
Nada mais, nada mais
que um movimento de mão
que desenha, lento,
num monólogo de formas,
a crueldade de um sentir
sem paixão.
E um uivo de vento,
acorda a memória
quase límpida
do teu indomável olhar,
que a lucidez do tempo
escureceu. E agora,
no desalento de tudo,
dançam dedos que se cansam, pouco a
pouco, na lenta escrita
dos desejos de um último olhar.
Fotografia: JPM
Música: Recuerdos de Allambra, por Pepe
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