Chove?
Chovem angústias
e solidão
em ângulos apertados.
Chove?
Chove um céu azul mutilado
por disformes elementos
que escondem um intervalo entre limites,
que queria ser luz..
Chove?
Chove e parece tudo morto,
e as formas desenhadas
em cima de mim, não
são mais que um tempo que foi
mas já não é.
Chove?
Chove no uniforme
espaço entre duas linhas,
que se encontram e cortam
o espectro celífero,
num amargo abandono
recortado,
numa aflição de contornos
exactos.
Chove?
Chove de um horizonte de cruz,
como um poema que dorme,
numa chuva de formas.
Chove.
Chove uma figura celeste que me molha,
e me deixa seca de azul.
Mika: Rain
Fotografia: Jorge
Como um poema sem palavras, saúdo-te
na solidão de um mundo sem voz,
perene de silêncio
iluminado pelo isómero infinito
de um desejo, que ao querer ser
não é mais que uma etérea vaga de mim.
Saúdo-te como um fiozinho de luz, do
qual tu tomaste posse,
posse da minha vida
e da minha morte.
Saúdo-te com o meu olhar inquieto,
ciente da tua paz eterna
e no tempo onde não estás,
saúdo-te na remota memória,
na cinza de um rosto,
na noite,que eu sei que o vento traz.
Bach - Air on a G String
Fotografia: Graça Loureiro
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