Conheço os teus desmandos, o
cheiro da chuva no teu chão,
o húmido oxigénio, o calor seco
das tardes de Verão.
Sei o frio das noites de Janeiro,
o aconchego de um abraço oportuno
quando o céu escancarado
se desatava cínico, taciturno,
sobre mim, e um nó
celeste de uma eternidade anunciada, se
prostrava ali...e eu sabia-me só.
Percebo o estrondo da solidão,
caminhei sem norte,
perdida, à procura da minha estrela,
calcorreei distantes ruas, na escuridão
dos dias, abandonada à minha sorte.
...mas, o gelado violino
esvoaça felicidade, e ela
no seu cristalino ímpeto
entranha-se no meu peito,
e eu, absorvo-a, escrevo-a no ar,
vivo-a, sonho-a no meu leito.
Agora, livre, fecho as asas,
permito-me a ficar.
Chopin Nocturne Violin by Sarah Chang
Foto: Inês
A vida é a memória que resta para partir.
Peço-lhe sem descanso,
que ice a bandeira
do desejo, do querer sem limite,
mas,
só as palavras nunca ditas
a embriagam, a embalam
na essência que nunca foi,
e, na destreza de um presente
que não mente, a errante sensação
que já não sente,
os estilhaços da ferida
que alastrou, mas já não doi.
Pernoito nesta breve luz
que ainda vejo, faço cair
na metamorfose do tempo
os meus olhos, e
junto da tua poesia,
no indecifrável silêncio
deste mar insone,
prometo-te: quando sozinho
vieres a esta praia, na crua névoa
plasmada de cinzento,
nesses dias,
para ti,
vestir-me-ei de vento.
Russian Red - No Past Land
Foto: Rui Santos
Numa terra aconteceu que um velho sábio matemático vindo de terras longínquas, se prostrou, no centro de uma ruela.O seu indomável olhar, estava já despojado da luz zenital do lôbrego quadrado que habitava. Ousou provar as novas cores, e uma pluma de morte abandonou-o. Tentou deslocar a retina, tão habituada que estava esta ao cinzento tedioso que era a norma, e, num assombro de espanto, reparou numa rebelião de formas, algumas disformes, que, iluminadas de azul pareciam saídas de um sonho surreal, daqueles que costumava ter quando regressava de Galway. Então, parado, fechou as asas e absorveu o instante. Sorriu ao pensar o que diria Weirstrass naquela situação. A ambiguidade do espaço.
Numa terra aconteceu que um sábio , vindo da terra do nada decidiu ver. E viu... que nada sabia, e como era sabio sorriu. Daquele lugar fez a sua morada e fugiu do mundo, para que o enfraquecimento do seu corpo, que a velhice causara, não o desonrasse naquelas coisas em que a sabedoria durante tanto tempo o havia honrado. Permitiu-se observar sem que qualquer algoritmo o perturbasse. Mediu com a alma o tamanho daquele ceu. Calculou com a mente o valor daquela cor e entendeu a sentença sempiterna à qual haveria de se apresentar.
This Strange Effect - Hooverphonic
Foto: Verme
o mar,
desnuda-as, majestosa
Joan Manuel Serrat - Poema de Amor
. TIC-TAC
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. Ana
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