Certas noites, no plasmar
do sonho
do tempo errante que foi, memórias
agudas espelham
insónias esculpidas
em desmaios de mim.
Certas noites, em arrulhadas
de azul, aprendo o que não fui
vejo o que não sou, alivio
no imenso livro
vidas que jazem, etéreas,
em alvas páginas
no profundo silêncio
da solidão apagada.
Certas noites, entre clareiras
de sons, adivinho
o deslizar do vento
o calor de outras mãos, que
noutro espaço, noutro tempo,
estas folhas irão tocar, estas folhas
onde agora os meus dedos
se movem
e estas vidas, que apesar de mortas
nunca morrem.
Tindersticks- Another Night In
Foto: Verme
...é uma espécie de saudade.
Nenhuma palavra.
Nenhuma lembrança.
Apenas o raiar de um sol
num crepúsculo de tempo, que
a solidão da lua, na redoma
calada do silencio, eclipsou.
Feroz mágoa crua, que afiada,
despedaçou imagens douradas
que ontem tinha.
Hoje, vazia, já não sou,
aquela que de escarlate, feliz
percorria
um destino
numa praia que em paz dormia,
perdida, num sonho sem voz,
intenso,
repleto de nós.
Um naufrágio de tempo
que se diluiu.
Um recanto
de vida, que
num assombro de palavras,
frágil se extinguiu
numa obstinada
imagem, que, de tão breve,
nem sei se existiu.
Leonard Cohen - dance me to the end of love
Foto: Graça Loureiro
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