A melancolia
rasga em ondas paralelas
a inocência de um passado
que foi, em areais
de nós,
silêncios esculpidos num sentimento
sem nome,
que em murmúrios de sons
se repartiam
e em gestos labirínticos,
espalhavam gotículas, que não eram mais
que pedaços de mim, impregnados de ti.
Uma ausência de nós
num monólogo surdo,
catapultava o fim,
e com ela, magoadas águas passavam
sem deixar rasto...
Há-de acontecer o dia,
que em crepúsculos de cidades
velhas, eu vou sentir.
E aí, o tempo far-se-á por sombras de palavras
e noites de lua...
KOOP ISLAND BLUES
Foto: Autor desconhecido
As manhãs chegavam
com chuva, sem mar.
Extensas paredes vazias onde a tua sombra nunca pousou
reflectiam, sem pena,
os dias lentíssimos
aqui, no silêncio onde moro.
Arrasto comigo o canto quase límpido
do oceano, que morria, extasiado
como um louco,
nas pedras quentes do fim da tarde.
Abandono-me na memória do teu olhar,
no contorno quase ténue do teu sorriso
e na crueldade das memórias sem retorno,
sinto uma liberdade
que reaviva um gesto inacabado
que se solta, num grito de abandono.
Atravesso o dia, repleta de mim,
e as fissuras do tempo
desbotam cada noite a lembrança do teu rosto.
A lua já não vem,
adormeço já sem lágrimas
e num murmúrio
soa lá ao longe a canção.
Adrienne Pierce - Laundry and Dishes
Foto: Johannes
Foto: DDiarte
Abrasadora...
A soma dos dias quantificou-a
e ela disse que sim.
Intensa,
como uma cítara escarlate,
fez embarcar o olhar
para outro sol, num oceano andou
e numa ilha atracou.
Flagrante,
como só o desejo conhece,
continuou, sem dizer nada,
independente,
indomável,
vagueou
numa solidez provocante,
o vislumbrou,
sentado numa pedra quente,
a ouvir os velhos,
ele lá estava.
Puríssima
sentiu-se então...feliz, por ali ficou.
Rodrigo Leão com Lula Pena:Passion
Las calles se cerraron.La lluvia de ayer eran lágrimas mías. La luna llena de hoy es tuya .Se mezcla con el olor de cerveza y bachatas que salen sin vergüenza por las ventanas de los bares. Hace calor. Mucho calor. Mi piel sigue fría y húmeda como me sucede a menudo en noches calientes. El agua que baja por mi rostro ya no son lágrimas. La lucidez y la enajenación, el rechazo y el deseo, la crueldad y el amor o el miedo y la esperanza soy yo. Los momentos de ahora son recuerdos que se encolan como guantes en el verano. Están, profundos en mis entrañas. La música vuela. Las palabras se quedan. La guitarra muere. La noche continúa...pero ya no me lleva con ella.
Foto: Clicio Barroso
Nem começo nem fim de Verão. A noite andava. Pensamentos sugeriam vivências a cores, numa vida a preto e branco, que íam e vinham em slow motion. Será que existe vida para além desta vida? Uma torrente de imagens. Imagens no ar misturavam palavras. Palavras ditas, sentidas ou não, perdidas em contos que saiam da radio. Diluídas em música, falavam de vida.E eu divagava em abismos de sons e imagens que surgiam da voz. Palavras sorrateiras, preparadas ou não, alinhavadas talvez...
A janela aberta, a chuva parou. Vidas secretas com música ao meio. Cantos de cigarras. Uivos de cão. Cheiro a terra molhada. Era o início de tudo. E eu não sabia de nada.
Cat Power - Lived In Bars
Foto: Inês
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